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quarta-feira, 2 de junho de 2010

revoluçao do bem

 atitude Carol Carneiro




reflexão

Revolução do bem

Algo novo surge nas metrópoles em resposta aos problemas que conhecemos tão de perto. Basta percebermos as manifestações urbanas que roubam nossa atenção e nos fazem refletir

Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann

Revista Bons Fluidos – 01/06/2010



Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:



[img1]A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.



"Pagar um café para alguém é uma demonstração simbólica de afeto", define Beth. Nas entrelinhas da iniciativa, desponta o exercício de se colocar no lugar do outro. Um dia você paga, no seguinte, se estiver sem trocado ou tiver esquecido a carteira em casa, recebe o mimo. "O próximo poderá ser você mesmo, ninguém sabe", alerta o lembrete fixado na parede do estabelecimento. Por meio dessa gentileza às escuras, os adeptos também se aproximam de seus pares, mesmo que não conheçam seu rosto. "Podemos ajudar alguém sem mesmo precisar saber quem ele é", enfatiza Beth. "Todos nós precisamos uns dos outros", arremata Marcos.



Quem chega se surpreende com a proposta. Já os frequentadores - profissionais e clientes que circulam regularmente pelo edifício - estão familiarizados com a lousa, onde ficam anotados os cafés ofertados gratuitamente. "Certa vez, um senhor, comovido com a ideia, deixou dez bebidas pagas", lembra Beth, com entusiasmo. "Tomara que mil estabelecimentos adotem essa fórmula em São Paulo, de forma que um próximo sempre possa se abastecer com um cafezinho", deseja Marcos. Até agora, bom sinal. De tão gasta, a lousa do local já foi trocada mais de uma vez.



[img2]CULTURA EM BOAS MÃOS

"Livros não são objetos de decoração. Eles devem percorrer seu caminho", declara Felipe Meyer, idealizador do projeto Livro Livre, junto com Pedro Markun. Por isso, não se espante se um dia desses encontrar num banco de praça ou ponto de ônibus um livro que pareça ter sido esquecido por alguém. Na verdade, ele foi deixado ali propositadamente para que você o encontre e o leve para casa, desde que se comprometa a passá-lo adiante após a leitura. Para participar da iniciativa, basta seguir três passos. O primeiro é ler uma boa trama. Encerrado o deleite, é preciso colar dentro do exemplar a etiqueta encontrada no site do projeto. Esse registro contém um código para que a obra possa ser rastreada e para que os leitores possam deixar suas impressões. Por fim, a tarefa é "libertar" a edição, "esquecendo-a", como quem não quer nada, em um local público e bem movimentado, onde possa ser rapidamente encontrada por um novo leitor.



O conceito é inspirado no projeto Bookcrossing, criado em 2001, nos Estados Unidos, e que já conta com mais de 600 mil participantes em cerca de 130 países. No Brasil, onde o hábito da leitura é freado por entraves econômicos e sociais, a iniciativa vem formar novos leitores, além de ampliar a vida útil dos exemplares. Uma corrente literária, mas, acima de tudo, solidária. Afinal, os amantes das letras conhecem o bem que um livro pode fazer por um indivíduo. "Defendemos a ideia de que a internet é uma rede de pessoas com o poder de mobilizar comunidades, causando transformações globais. Em nosso caso, está em jogo a democratização da leitura", enfatiza Felipe.



Desde o início do projeto, em 2008, o Livro Livre já contabilizou a libertação de 4 900 publicações e deve ter atingido em torno de 12 mil pessoas, pois se considera que cada título passe por pelo menos três mãos. "Para nós, é gratificante a surpresa que os contemplados sentem ao ganhar um livro, lembrando que está fazendo parte de uma corrente e que sua única obrigação é passá-lo adiante", comenta o idealizador.



Outra investida paralela é a das Blitz Literárias, ações em que uma equipe de voluntários distribui exemplares à comunidade. Num evento desses, Felipe presenciou uma cena inesquecível. "Entreguei um livro para um rapaz dentro de uma favela em São Paulo. Depois de um tempo, vi que ele estava lendo a história para o filho de poucos meses, que obviamente não estava entendendo nada. A felicidade daquele pai me emocionou."



CONTAMINAÇÃO SILENCIOSA

Se você tivesse de escolher um lugar para meditar, certamente a avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, seria o último endereço a ser cogitado. Não no caso dos Influenzadores. O coletivo criado em 2009 e comandado pelos paulistas Alexandre Paulain, Sarah Elisa Viana e Júlia Jalbut, artistas ligados às artes cênicas e visuais e à música, fez o caminho inverso: optou justamente pelo canteiro central da movimentada via, em plena hora do rush, para realizar uma meditação em massa. Batizada de Iluminação Urbana, a intervenção contou com 100 participantes vestidos com trajes sociais - tal qual o público que trabalha nos arredores. "Entendemos a performance como um ato de guerrilha, mas sem armas. O que nos interessa é sequestrar por instantes o olhar do transeunte e fazer desmoronar o previsível fluxo urbano", justifica Alexandre. Uma vez atraídas pela inusitada cena, as pessoas são incitadas a parar por alguns minutos, segundos até, e lidar com algo diferente do habitual. "A presença humana é imprescindí

vel para provocar a estranheza que nos liberta da rotina já tão desbotada", defende.



A grande sacada do grupo foi chamar a atenção das pessoas, oprimidas pelo barulho do entorno, valendo-se do silêncio. "Ao invés de gritarmos, ficamos quietos, ao invés de lutarmos por uma revolução externa, buscamos uma revolução interna, a tranquilidade em meio ao caos", relata. "Mostramos que qualquer um poder fazer aquilo", acrescenta.



As reações, contudo, foram as mais diversas. Surpresa, incômodo, apoio. "Alguns pensaram que estávamos ali pela paz, outros, contra o estresse. Teve até quem nos considerou um bando de desocupados. O fato é que a imagem de pessoas comuns meditando não no Tibete, mas em plena Paulista, chocou muita gente", avalia o artista. Apesar do estranhamento, houve até quem se empolgasse a ponto de se juntar à trupe, cruzando as pernas em posição de lótus e se entregando à meditação. Já aqueles que participaram da investida puderam vivenciar, no mínimo, minutos desafiadores. "Imagine que a Paulista represente o turbilhão de pensamentos. Estávamos literalmente no meio desse turbilhão", descreve.



O auge da intervenção sensibilizou todos, participantes e pedestres. "Havia um grupo de crianças de rua que ameaçavam nos roubar, nos insultavam. Mas, depois de alguns minutos sem receber nenhuma reação, passaram a meditar conosco", recorda Alexandre, satisfeito. Não é à toa que o nome do coletivo parodia o do vírus Influenza A (H1N1). No sentido inverso ao da contaminação virótica, querem se infiltrar positivamente no cotidiano das pessoas, "contagiando o mundo com ideias de liberdade, alegria e amor".



OUSADIA PELO MUNDO

Vale tudo quando a motivação é semear o debate. Em Nova York, o artista plástico Adrian Kondratowicz criou uma proposta ecológica e artística. Em seu site, ele disponibiliza sacos de lixo coloridos e biodegradáveis. O objetivo é que essas embalagens evidenciem o volume de detritos produzidos nas grandes cidades. Outro movimento norte-americano vem conquistando terreno ao redor do mundo. Chamada de Yarn Bombing, espécie de grafite de lã, a iniciativa se ocupa da tarefa de revestir propriedades públicas com tricô. Na Bélgica, quem roubou a atenção foi a designer Liesbeth Bussche. Ela produziu esculturas gigantes de joias e as espalhou pelas ruas de Tielrode. Uma maneira contundente de valorizar o espaço que diariamente compartilhamos com nossos concidadãos e nos lembrar da importância de fazermos o mesmo.





reflexão

Revolução do bem

Algo novo surge nas metrópoles em resposta aos problemas que conhecemos tão de perto. Basta percebermos as manifestações urbanas que roubam nossa atenção e nos fazem refletir

- A A +Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann

Revista Bons Fluidos – 01/06/2010

Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:



[img1]A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.



"Pagar um café para alguém é uma demonstração simbólica de afeto", define Beth. Nas entrelinhas da iniciativa, desponta o exercício de se colocar no lugar do outro. Um dia você paga, no seguinte, se estiver sem trocado ou tiver esquecido a carteira em casa, recebe o mimo. "O próximo poderá ser você mesmo, ninguém sabe", alerta o lembrete fixado na parede do estabelecimento. Por meio dessa gentileza às escuras, os adeptos também se aproximam de seus pares, mesmo que não conheçam seu rosto. "Podemos ajudar alguém sem mesmo precisar saber quem ele é", enfatiza Beth. "Todos nós precisamos uns dos outros", arremata Marcos.



Quem chega se surpreende com a proposta. Já os frequentadores - profissionais e clientes que circulam regularmente pelo edifício - estão familiarizados com a lousa, onde ficam anotados os cafés ofertados gratuitamente. "Certa vez, um senhor, comovido com a ideia, deixou dez bebidas pagas", lembra Beth, com entusiasmo. "Tomara que mil estabelecimentos adotem essa fórmula em São Paulo, de forma que um próximo sempre possa se abastecer com um cafezinho", deseja Marcos. Até agora, bom sinal. De tão gasta, a lousa do local já foi trocada mais de uma vez.



[img2]CULTURA EM BOAS MÃOS

"Livros não são objetos de decoração. Eles devem percorrer seu caminho", declara Felipe Meyer, idealizador do projeto Livro Livre, junto com Pedro Markun. Por isso, não se espante se um dia desses encontrar num banco de praça ou ponto de ônibus um livro que pareça ter sido esquecido por alguém. Na verdade, ele foi deixado ali propositadamente para que você o encontre e o leve para casa, desde que se comprometa a passá-lo adiante após a leitura. Para participar da iniciativa, basta seguir três passos. O primeiro é ler uma boa trama. Encerrado o deleite, é preciso colar dentro do exemplar a etiqueta encontrada no site do projeto. Esse registro contém um código para que a obra possa ser rastreada e para que os leitores possam deixar suas impressões. Por fim, a tarefa é "libertar" a edição, "esquecendo-a", como quem não quer nada, em um local público e bem movimentado, onde possa ser rapidamente encontrada por um novo leitor.



O conceito é inspirado no projeto Bookcrossing, criado em 2001, nos Estados Unidos, e que já conta com mais de 600 mil participantes em cerca de 130 países. No Brasil, onde o hábito da leitura é freado por entraves econômicos e sociais, a iniciativa vem formar novos leitores, além de ampliar a vida útil dos exemplares. Uma corrente literária, mas, acima de tudo, solidária. Afinal, os amantes das letras conhecem o bem que um livro pode fazer por um indivíduo. "Defendemos a ideia de que a internet é uma rede de pessoas com o poder de mobilizar comunidades, causando transformações globais. Em nosso caso, está em jogo a democratização da leitura", enfatiza Felipe.



Desde o início do projeto, em 2008, o Livro Livre já contabilizou a libertação de 4 900 publicações e deve ter atingido em torno de 12 mil pessoas, pois se considera que cada título passe por pelo menos três mãos. "Para nós, é gratificante a surpresa que os contemplados sentem ao ganhar um livro, lembrando que está fazendo parte de uma corrente e que sua única obrigação é passá-lo adiante", comenta o idealizador.



Outra investida paralela é a das Blitz Literárias, ações em que uma equipe de voluntários distribui exemplares à comunidade. Num evento desses, Felipe presenciou uma cena inesquecível. "Entreguei um livro para um rapaz dentro de uma favela em São Paulo. Depois de um tempo, vi que ele estava lendo a história para o filho de poucos meses, que obviamente não estava entendendo nada. A felicidade daquele pai me emocionou."



CONTAMINAÇÃO SILENCIOSA

Se você tivesse de escolher um lugar para meditar, certamente a avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, seria o último endereço a ser cogitado. Não no caso dos Influenzadores. O coletivo criado em 2009 e comandado pelos paulistas Alexandre Paulain, Sarah Elisa Viana e Júlia Jalbut, artistas ligados às artes cênicas e visuais e à música, fez o caminho inverso: optou justamente pelo canteiro central da movimentada via, em plena hora do rush, para realizar uma meditação em massa. Batizada de Iluminação Urbana, a intervenção contou com 100 participantes vestidos com trajes sociais - tal qual o público que trabalha nos arredores. "Entendemos a performance como um ato de guerrilha, mas sem armas. O que nos interessa é sequestrar por instantes o olhar do transeunte e fazer desmoronar o previsível fluxo urbano", justifica Alexandre. Uma vez atraídas pela inusitada cena, as pessoas são incitadas a parar por alguns minutos, segundos até, e lidar com algo diferente do habitual. "A presença humana é imprescindí

vel para provocar a estranheza que nos liberta da rotina já tão desbotada", defende.



A grande sacada do grupo foi chamar a atenção das pessoas, oprimidas pelo barulho do entorno, valendo-se do silêncio. "Ao invés de gritarmos, ficamos quietos, ao invés de lutarmos por uma revolução externa, buscamos uma revolução interna, a tranquilidade em meio ao caos", relata. "Mostramos que qualquer um poder fazer aquilo", acrescenta.



As reações, contudo, foram as mais diversas. Surpresa, incômodo, apoio. "Alguns pensaram que estávamos ali pela paz, outros, contra o estresse. Teve até quem nos considerou um bando de desocupados. O fato é que a imagem de pessoas comuns meditando não no Tibete, mas em plena Paulista, chocou muita gente", avalia o artista. Apesar do estranhamento, houve até quem se empolgasse a ponto de se juntar à trupe, cruzando as pernas em posição de lótus e se entregando à meditação. Já aqueles que participaram da investida puderam vivenciar, no mínimo, minutos desafiadores. "Imagine que a Paulista represente o turbilhão de pensamentos. Estávamos literalmente no meio desse turbilhão", descreve.



O auge da intervenção sensibilizou todos, participantes e pedestres. "Havia um grupo de crianças de rua que ameaçavam nos roubar, nos insultavam. Mas, depois de alguns minutos sem receber nenhuma reação, passaram a meditar conosco", recorda Alexandre, satisfeito. Não é à toa que o nome do coletivo parodia o do vírus Influenza A (H1N1). No sentido inverso ao da contaminação virótica, querem se infiltrar positivamente no cotidiano das pessoas, "contagiando o mundo com ideias de liberdade, alegria e amor".



OUSADIA PELO MUNDO

Vale tudo quando a motivação é semear o debate. Em Nova York, o artista plástico Adrian Kondratowicz criou uma proposta ecológica e artística. Em seu site, ele disponibiliza sacos de lixo coloridos e biodegradáveis. O objetivo é que essas embalagens evidenciem o volume de detritos produzidos nas grandes cidades. Outro movimento norte-americano vem conquistando terreno ao redor do mundo. Chamada de Yarn Bombing, espécie de grafite de lã, a iniciativa se ocupa da tarefa de revestir propriedades públicas com tricô. Na Bélgica, quem roubou a atenção foi a designer Liesbeth Bussche. Ela produziu esculturas gigantes de joias e as espalhou pelas ruas de Tielrode. Uma maneira contundente de valorizar o espaço que diariamente compartilhamos com nossos concidadãos e nos lembrar da importância de fazermos o mesmo.



Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:









A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.

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