lady´s blog

quarta-feira, 30 de junho de 2010

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

site interessante

http://www.portalvital.com/blog/

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Skank -- Extra Clipe Dois Rios - Vídeo Oficial



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ouse...faça..aconteça..


palavras de OSHO

Vá fundo na sua infelicidade; ela vai revelar muitas coisas a você.

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Ser feliz ou ter razao?

"Ser feliz ou ter razão?"




Para reflexão...



Oito da noite, numa avenida movimentada.

O casal já está atrasado para jantar na casa de uns amigos.

O endereço é novo e ela consultou no mapa antes de sair.

Ele conduz o carro.

Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda.

Ele tem certeza de que é à direita.

Discutem. percebendo que além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida.

Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado.

Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno.

Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados.

Mas ele ainda quer saber:

- Se tinha tanta certeza de que eu estava indo pelo caminho errado, devia ter insistido um pouco mais...

E ela diz:

- Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz.

Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!



Moral da história:



Esse fato foi contado por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no trabalho.

Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de tê-la ou não.

Diante disso me pergunto:

'Quero ser feliz ou ter razão?'

E lembrei de um outro pensamento parecido, diz o seguinte:

“Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam."

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mulheres guerreiras

http://www.eunanet.net/beth/revistazap/topicos/mulheres1.htm

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Pagu de hoje.

http://www.boqnews.com/ultimas_texto.php?cod=4849&PHPSESSID=b2220b4d5d9bedf5c38d5ffbe0860239

reportagem da a tribuna

http://www.pagu.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/06/PAGU5.jpg

segunda-feira, 14 de junho de 2010


Biografia




Pagu (1910 – 1962)



Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu, nasceu em São João da Boa Vista em 9 de junho de 1910. Poetisa, romancista, crítica, cronista, ilustradora e autora teatral, Pagu foi uma revolucionária. Aos 19 anos, recém saída da Escola Normal da Capital, em São Paulo, juntou-se ao movimento antropofágico – gestado pelo casal modernista Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Raul Bopp, dentre outros. Estreou na Revista de Antropofagia em sua fase mais radical, a chamada “segunda dentição”, juntamente com Oswald, com quem foi casada de 1930 a 1934. Aos 20 anos, viajou a Buenos Aires, onde encontrou o líder comunista Luís Carlos Prestes e conheceu o escritor Jorge Luís Borges.

Militante do Partido Comunista, Pagu foi a primeira mulher presa por questões políticas no Brasil por sua participação em greve dos estivadores de Santos, em 1931. Permaneceu presa algumas semanas na Cadeia de Santos, edifício que atualmente sedia a Oficina Cultural Regional Pagu – da qual é patronesse.

Correspondente de vários jornais, Pagu visitou os Estados Unidos, o Japão e a China. Entrevistou Sigmund Freud e assistiu à coroação de Pu-Yi, o último imperador chinês. Por intermédio dele, conseguiu sementes de soja que foram enviadas ao Brasil e introduzidas na economia agrícola nacional. Casada com o crítico de arte Geraldo Ferraz, radicou-se em Santos e foi crítica literária, teatral e de televisão do jornal “A Tribuna”. Liderou a construção do Teatro Municipal, fundou a Associação dos Jornalistas Profissionais e criou a União do Teatro Amador de Santos, por onde passariam os novatos Aracy Balabanian, José Celso Martinez Correa, Sérgio Mamberti e Plínio Marcos. Pagu foi também a primeira tradutora de Arrabal para o português, introduzindo o teatro do absurdo no cenário brasileiro. Lutou desde 1949 contra um câncer, e encerrou sua brilhante trajetória no ano de 1962.







Uma foto..um momento feliz!!


Existem momentos  na vida que se eternizam..
Este  foi um deles..
churrasquinho,fundo de quintal..
Casa da bydell..dia mt mt feliz!!!

desenho/aula acetato/prof Marcia

maos/ladyart´s trabalho feito no acetato,com a ponta de uma agulha...no final,fica uma gravura belissima!!!

sou runologa

jogo runas..
gratuitamente!!
ladyprevisoes2008@hotmail.com

bydell/tarot**online

Sou tarologa,tenho imenso prazer em poder ajudar!!
tarot/gratuito

ladyprevisoes2008@hotmail.com

letra da musica confusion//elo

lady dell:


Letras de músicas / Song Lyrics



Electric Light Orchestra - Confusion







Everywhere the sun is shining

All around the world, it's shining

But cold winds blow across your mind

Confusion -- it's such a terrible shame

Confusion -- you don't know what you're saying

You've lost your love and you just can't carry on

You feel there's no one there for you to lean on.



Every night you're out there, darling

You're always out there running

And I see that lost look in your eyes

Confusion -- I don't know what I should do

Confusion -- I leave it all up to you

You've lost your love and you just can't carry on

You feel there's no one there for you to lean on.



Dark is the road you wander

And as you stand there under

The starry sky, you feel sad inside

Confusion -- you know it's driving me wild

Confusion -- it comes as no big surprise

You've lost your love and you just can't carry on

You feel there's no one there for you to lean on.



Confusion, confusion

Confusion, confusion

sábado, 12 de junho de 2010

Pagu vai a feira....encantadora!!!


Sao tantas as Pagus!!..
todas tao belas....
cada uma de nós quer ser Pagu!!
de alguma forma...
uma vez na vida!!
MAs Pagu mesmo..
so existiu uma...
A nossa Pagu!!
MUlher que foi..
sem medo de nada!!!
Hoje a gente comemora!!
O que fica pra nós  mulheres..
é a coragem de Pagu!!!


Pagu...Ecologicamente correta!!!

Customizando..
os valores!!
sustentabilidade!!!
PAgu!!va belissima..
com sua ecobag...cheia de charme!!!

Olha que coisa mais linda....

Mais cheia de graça...é Pagu que passa...
essa sainha jeans  ficou show  em vc!!
Pagu maravilhosa!!!

sigo seus passos...

A moda anda...td anda num passo gigantesco..nos passos de Pagu....se vao tanto sonhos!!

caminhemos...nos passos de Pagu!!!!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Palavras de osho

Osho: a luz que brinca mais alto


O que seria feito de suas palavras?





Por Enzo Potel



Inconseqüente, egoísta, contraditório, sempre aberto a experimentar todas as coisas - independente do que venham a causar, e principalmente do que venham a causar no outro. Esses são os rótulos mais comuns para Chandra Mohan Jain, também conhecido como Bhagwan Shree Rajneesh ou simplesmente Osho.





Como todo ser livre, Osho não esteve preocupado com o que seria feito de suas palavras. Seus livros, que somam mais de seiscentos títulos, nem foram escritos pelo “guru”; são transcrições de palestras e discursos. O aspecto bruto de seu rosto, cravejado com dois olhos firmes e hipnóticos, não terá chance de ser retratado com a docilidade que se vê na feição de outras descidas divinas: morreu há pouco mais de vinte anos. “Quem é iluminado por dentro parece escuro aos olhos do mundo”, já dizia Lao Tsé, há mais de dois milênios antes de Osho nascer.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pagu de hoje.

 Eu que comecei a mergulhar,no imenso oceano do mundo de Pagu,fui vendo que se ela estivesse entre nos...seria com certeza,uma mulher mais zen!!hoje em dia nao é preciso mais tanto pudor,nem tantos  misterios..hoje,digo graças a tds as  pagus,que existiram,ja nos é permitido,o dom de falar...de dizer em bem alto TOM..o que queremos...o que gostamos..o que pensamos...lendo as  diversas biografias de Pagu**,senti que td que ela nos deixa é a coragem...as  iniciativas...as  vontades de nao ter medo...a linguagem...o poder da seduçao...td o que a grande magia teatral nos  passa...os  sonhos!!!hoje,eu desenharia uma Pagu**diferente...de traços mais sublimes...pq agora td  já nos foi ensinado...desenharia um modelo em tons lilas...por  ser a cor  da transmutaçao...a cor  de quem ja se elevou pra outros patamares..alem da vida!!eis que surge pra mim uma Pagu**onde  só o tom do batom,se une a beleza de ser  tao lilas quanto a propria beleza..aquela  onde o belo se  une a melhor de  todas as   qualidades...ser  mulher  com a grande magia da feminilidade que em Pagu**era tao peculiar!!!Uma linda historia!!que hj a gente comemora
em grande  estilo..em versos,prosas,encenando mais um grande capitulo de vida!!
Viva voçe Pagu**A grande estrela!!!

Mais voçe//mensagem do dia.

 DUAS BOLAS, POR FAVOR - por Danuza Leão




Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.

Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.

Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.



O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').



Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta./



Tem vontade de ficar em casa vendo um dvd, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar./



E por aí vai.



Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...



Às vezes dá vontade de fazer tudo “errado”.

Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.

Recusar prazeres incompletos e meias porções.



Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.



Um dia a gente cria juízo.

Um dia...

Não tem que ser agora.



Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate...

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.

centenario PAGU**

Pagu recebe homenagens em seu centenário


09/06/2010 - 00h00 (Outros - A Gazeta)



Nas celebrações do centenário de nascimento de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, comemorado hoje, a figura múltipla da artista será lembrada em uma longa programação na Casa das Rosas (São Paulo) e na Unisanta (Santos), onde está localizado o Centro de Estudos Pagu, criado em 1998 para abrir a pesquisa sobre a personagem, entre mais de 3 mil documentos. Jornalista, escritora, poetisa, desenhista e militante política, Pagu foi um dos grandes nomes do Modernismo no país, ao lado de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. A trajetória de irreverência e contestação da artista, que recebeu o título de musa antropofágica, inspira também a exposição e a fotobiografia “Viva Pagu!”, assinada por Lúcia Maria Teixeira Furlani, reitora da Unisanta, e Geraldo Galvão Ferraz , filho da homenageada, que será publicada no dia 1º de julho. Na Casa das Rosas, Lúcia e a atriz Miriam Freeland fazem hoje leituras de cartas trocadas entre Pagu e personagens que revolucionaram a arte no Brasil.

Santos no Passado



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quinta-feira, 3 de junho de 2010

JB Online :: JBlog Quadrinhos - Oficina de quadrinhos na gibiteca de Santos

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CAMISETAS COM RETRATOS DE IT BLOGGERS | News | Oi Moda

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olha onde esta a venus da lady!!!


Vênus em Libra




Marcia Mattos

Mestra da sedução e da diplomacia, consegue que o outro faça tudo o que você quer. E isso sem bancar a autoritária, pois, se for necessário, reverá os próprios pontos de vista. Como o relacionamento assume importância capital em sua vida, não mede esforços para preservá-lo. Embora deseje reciprocidade na vida a dois, acredita que quem ama releva e ninguém a verá brigando por bobagens. Além de saber se colocar no lugar do outro, a mulher que tem Vênus em Libra se dá bem no papel de musa - e charme para isso não lhe falta. Pode inspirar o homem, despertando nele os melhores sentimentos. Em contrapartida, não suporta turbulência e grosserias - só as atitudes elegantes conseguem emocioná-la. Na cama, costuma ser mais sofisticada do que visceral.

PONTO FORTE Você se importa com o bem-estar do outro.



DESAFIO Superar a tendência a ceder por medo de desagradar

Mergulhando fundo no mundode Pagu!!!!

PATRÍCIA GALVÃO (PAGÚ)


Escritora: 1910 - 1962



Camila Ventura Frésca









PAGÚ TEM UNS OLHOS DE FAZER DOER...

QUANDO TUDO ACONTECEU...



1910: Nasce, em 9 de junho, Patrícia Rehder Galvão, em São João da Boa Vista (SP). - 1928: Completa o Curso na Escola Normal da Capital, em São Paulo; sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral participa do movimento antropofágico; Raul Bopp dedica-lhe o poema Coco e lhe dá o apelido que se tornou famoso. - 1930: Oswald separa-se de Tarsila e casa-se com Pagú; nasce Rudá de Andrade, segundo filho de Oswald e primeiro de Pagú. - 1931: Ingressa no Partido Comunista; junto com Oswald edita o jornal O Homem do Povo, onde assina a coluna feminista “A Mulher do Povo”; é presa pela primeira vez em agosto ao participar, como militante comunista, do comício do PC e dos estivadores em Santos. - 1933: Publica o romance Parque Industrial, sob o pseudônimo de Mara Lobo; sai em viagem pelo mundo, passando pelos EUA, Japão, Polônia, Alemanha, URSS e França. - 1935: É presa em Paris como comunista estrangeira, com a identidade de Leonnie, e repatriada para o Brasil; começa a trabalhar no jornal A Platéia e separa-se definitivamente de Oswald; é novamente presa e torturada, ficando na cadeia por cinco anos. - 1940: Ao sair da prisão, rompe com o Partido Comunista; casa-se com o jornalista Geraldo Ferraz. - 1941: Nasce Geraldo Galvão Ferraz, seu segundo filho. - 1942: Inicia intensa participação na imprensa, atuando sobretudo como crítica de arte. - 1945: Lança novo romance, A famosa revista, escrito em colaboração com Geraldo Ferraz. - 1950: Concorre à Assembléia Legislativa de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro; lança o manifesto “Verdade e Liberdade”; passa a exercer importante papel no panorama cultural da cidade de Santos. - 1952: Freqüenta o curso da Escola de Arte Dramática (EAD) de São Paulo e passa a se dedicar cada vez mais ao teatro. - 1955/62: Trabalha no jornal A Tribuna, de Santos, como crítica literária, teatral e de televisão. - 1962: Em setembro de 62 vai a Paris para ser operada de câncer, mas a cirurgia fracassa; volta ao Brasil e morre no dia 12 de dezembro.











A ESCANDALOSA NORMALISTA





Pagú nasce Patrícia Rehder Galvão no dia 09 de junho de 1910 em São João da Boa Vista, São Paulo, terceira filha de Adélia Rehder Galvão e Thiers Galvão de França. Três anos depois a família se muda para São Paulo, cidade que passava, desde o fim do século XIX, por profundas transformações. Há um surto de expansão econômica motivado sobretudo pelas lavouras cafeeiras do interior do estado e pela proliferação de indústrias. É nesta cidade que crescia vertiginosa e desordenadamente que Patrícia passa a freqüentar a escola. De saia azul, blusa branca, cabelos soltos e batom escuro, ela chama a atenção dos rapazes da Faculdade de Direito ao passar diariamente pelo largo de São Francisco.







“Era uma menina forte e bonita, que andava sempre muito extravagantemente maquiada, com uma maquiagem amarelo-escura, meio cor de queijo palmira, e pintava os lábios de quase roxo, tinha um cabelo comprido, assim pelos ombros, e andava com o cabelo sempre desgrenhado e com grandes argolas na orelha. Passava sempre lá pela faculdade, de uniforme de normalista. E os estudantes buliam muito com ela, diziam muita gracinha pra ela (...) faziam muita piada e ela respondia à altura, porque não tinha papas na língua para responder”, descreve um estudante de direito da época.







Alfredo Mesquita, em texto de 1971, falou sobre a amiga: “Pagú fora aluna célebre da ‘Escola Normal da Praça’ (...) Corriam em São Paulo, cidade provinciana, histórias malucas a seu respeito: fugas, pulando janelas e muros da escola, cabelos cortados e eriçados, blusas transparentes de decotes arrojados, cigarros fumados em plena rua. Escândalos, para a época”.







A “escandalosa” Pagú presencia também, ainda que muito jovem – tinha à época 12 anos – a Semana de Arte Moderna de 1922 e o início do movimento modernista, do qual mais tarde iria participar. Em 1925, com quinze anos, passa colaborar no Brás Jornal, assinando Patsy.







Além da Escola Normal, Zazá, como era conhecida pelos familiares, freqüenta com a irmã Sidéria o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde lecionava Mário de Andrade. Numa crônica escrita para o Diário de São Paulo muitos anos depois, a própria Patrícia rememoraria o poeta àquela época:







“Mário de Andrade tinha um riso largo de criança, na minha infância, eu roubando frutas no tabuleiro da casa que tinha perto do Conservatório, na avenida São João, e nós meninas sem saber que aquele professor comprido e feio, de riso de criança grande, era um poeta, comia amendoim abrindo o clã do jabuti, e ninguém de nós no piano, na sala, na rua, na porta, pressentindo “depois de amanhã o porvir, sim, o porvir...” Nenhuma de nós sabia que o poeta era o poeta, que o professor fosse outra coisa” (“Cor local: Depois de amanhã Mário de Andrade”, Diário de São Paulo, 23/2/47).











O ENVOLVIMENTO COM O GRUPO ANTROPOFÁGICO



















Em 1928 Patrícia completa o Curso Normal da Escola da Capital e é neste mesmo ano que entra em contato com o grupo da Antropofagia. Também neste momento ganha o apelido que a acompanharia pela vida toda, ainda que mais tarde já não gostasse de ser chamada assim: Pagú. Foi Raul Bopp quem lhe deu o apelido. Em depoimento a Augusto de Campos, Bopp afirma que Patrícia lhe mostrara alguns poemas e ele sugeriu que ela adotasse esse nome de guerra literário. O poeta pensara que ela se chamava Patrícia Goulart, e compôs o nome juntando as supostas iniciais. Em outubro de 1928, Bopp publica na revista Para Todos..., do Rio, o poema “Coco de Pagú”:







“Pagú tem uns olhos moles



uns olhos de fazer doer.



Bate-coco quando passa.



Coração pega a bater.







Eh Pagú eh!



Dói porque é bom de fazer doer (...)”







É o mesmo Bopp quem a introduz no salão da Alameda Barão de Piracicaba, nas reuniões oferecidas por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, o casal “mais admirado e requisitado da sociedade paulistana”, nas palavras de Maria Eugênia Boaventura, biógrafa de Oswald. Ele e Tarsila logo simpatizam com a jovem ousada e excêntrica, que a partir de então passa a freqüentar as reuniões do grupo. Segundo depoimento do arquiteto Flávio de Carvalho, dado em 1964, Pagú “era uma colegial que Tarsila e Oswald resolveram transformar em boneca. Vestiam-na, calçavam-na, penteavam-na, até que se tornasse uma santa flutuando sobre as nuvens”.







O movimento antropofágico, lançado em 1928 com o “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade, era uma radicalização do modernismo de 22. O texto de Oswald foi publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, criada para difundir o movimento. Segundo Maria Eugênia Boaventura, o movimento antropófago representa o extremismo do modernismo, sua forma mais revolucionária. “Ele reproduz e intensifica todos os tipos anteriores de ruptura. Representa uma síntese metafórica da trajetória dos diferentes grupos da experiência moderna no Brasil”.







Após dez números a revista passa por uma reformulação e inicia sua segunda fase, ainda mais radical que a primeira, fazendo com que haja uma cisão no grupo e vários integrantes encerrem sua colaboração, como Mário de Andrade e Alcântara Machado. “A Revista de Antropofagia, em ambas as fases, de vários modos, ridiculariza a ação e o pensamento dos companheiros modernistas que não aderem, afastam-se do grupo, ou ainda, de escritores que se opõem à programática antropofágica.”, esclarece Boaventura.







É nesta “segunda dentição” - como os autores se referiam à nova fase -, iniciada em março de 1929, que Pagú inicia sua colaboração, basicamente com desenhos. Em junho do mesmo ano ela se apresenta numa festa beneficente no Teatro Municipal em que, vestida por Tarsila, declama poemas modernistas, incluindo o “Coco” de Bopp e um poema de sua autoria, presente no “Álbum de Pagú”, de 1929, livro com poemas e desenhos feitos por ela:







“...a minha gata é safada e corriqueira...



arremeda ‘picassol’



trepa na trave do galinheiro e preguiçosamente escancara a



boca e as pernas.



...a minha gata é vampira...



mimo de um italiano velho e apaixonado. general de brigada. dois



metros de altura. pelado e sentimental. atavismo.



o luxo da minha gata é o rabo



ela pensa que é serpente...”







A partir dessa apresentação, Pagú torna-se conhecida para além dos artistas e intelectuais que freqüentavam a Alameda Barão de Piracicaba. A relação dela com Tarsila e Oswald era cada vez mais estreita – especialmente com este último, com quem inicia um romance neste mesmo ano de 1929. Oswald descreveria de forma bem humorada o abalo na relação com Tarsila:







“Se o lar de Tarsila



vacila



é por causa



do angu



de Pagú”







Em 20 de julho é inaugurada no Rio a primeira exposição individual de Tarsila no Brasil. Uma comitiva de “antropófagos” formada entre outros por Pagú, Anita Malfatti, o pintor Waldemar Belisário e Oswald acompanha a pintora à cidade. Em reportagem à revista Para Todos... (“Na exposição de Tarsila”), Clóvis de Gusmão publica uma breve entrevista de Pagú:







“Pagú veio ao Rio com Tarsila (...) a gente quando vê Pagú repete pra dentro aquilo que o Bopp escreveu: - dói – porque é bom de fazer doer!



- Que é que você pensa, Pagú, da antropofagia?



- Eu não penso: eu gosto.



- Tem algum livro a publicar?



- Tenho: a não publicar: os “60 poemas censurados” que eu dediquei ao Dr. Fenolino Amado, diretor da censura cinematográfica. E o Álbum de Pagú – vida paixão e morte – em mãos de Tarsila, que é quem toma conta dele. As ilustrações dos poemas são também feitas por mim.



- Quais as suas admirações?



- Tarsila, Padre Cícero, Lampeão e Oswald. Com Tarsila fico romântica. Dou por ela a última gota do meu sangue. Como artista só admiro a superioridade dela.



- Diga alguns poemas, Pagú.







(Informações: - Pagú é a criatura mais bonita do mundo – depois de Tarsila, diz ela. Olhos verdes. Cabelos castanhos. 18 anos. E uma voz que só mesmo a gente ouvindo).”







É provável que a mesma beleza que encantara o repórter tenha feito com que Oswald deixasse Tarsila para se unir a Pagú. Grávida de Oswald, Pagú casa-se em 28 de setembro com o pintor Waldemar Belisário, como forma de manter as aparências. Mas tudo fora planejado por Oswald com o consentimento do pintor, que devia favores pessoais a ele. Logo após a cerimônia civil, o casal partiu em lua-de-mel para Santos mas, no alto da serra, Waldemar trocou de lugar com Oswald, que os esperava, e voltou para São Paulo. O casamento foi anulado em 5 de fevereiro de 1930.







Em 5 de janeiro de 1930 Pagú e Oswald casam-se em frente ao jazigo da família do escritor, conforme escreve Oswald em O romance da época anarquista ou Livro das horas de Pagú que são minhas, espécie de diário iniciado em maio de 29, provavelmente data do início do romance entre os dois:







“1930, 5 de janeiro. Nesta data, contrataram casamento a jovem amorosa, Patrícia Galvão e o crápula forte, Oswald de Andrade. Foi diante do túmulo do Cemitério da Consolação, à Rua 17, n.º 17, que assumiram o heróico compromisso. Na luta imensa que sustentaram pela vitória da poesia e do estômago, foi grande o passo prenunciador, foi o desafio máximo. Depois se retrataram diante de uma igreja. Cumpriu-se o milagre. Agora, sim, o mundo pode desabar.”









O CASAL QUE NÃO CABE NA SOCIEDADE E A MILITÂNCIA POLÍTICA









Mas o mais novo casal “antropófago” não encontrou as portas da sociedade paulistana abertas. Segundo Flávio de Carvalho, “quando Oswald rompeu com Tarsila, ligando-se a Patrícia Galvão, foi repudiado pela sociedade”. Olívia Guedes Penteado, famosa senhora da elite incentivadora dos jovens modernistas, recusa-se a receber o novo casal. Além disso, a crise de 1929 abalou seriamente a situação financeira de Oswald. Para fugir dos credores ele isolou-se com Pagú na Ilha das Palmas, em Santos. Outro endereço do casal foi a Vila Rafael, uma chácara no hoje bairro de Santo Amaro, onde vivia também Oswald de Andrade Filho, apelidado Nonê.







Em 25 de setembro de 1930 nasce Rudá de Andrade, primeiro filho de Pagú e segundo de Oswald. Segundo Boaventura, nessa época “Oswald vivia irresponsavelmente um sonho. Retalhava sua herança e a do filho, vendendo atabalhoadamente pedaços de terrenos para sobreviver. Fazia pouco caso de dinheiro, pois esperava a revolução iminente que iria socializar tudo. Nas ausências e retiradas estratégicas de Oswald e Pagú, quer para fugirem da polícia, quer para se dedicarem às tarefas políticas, Nonê tomava conta de Rudá”.







Três meses após o nascimento de Rudá, Pagú viaja para Buenos Aires para participar de um festival de poesias. Lá conhece Luís Carlos Prestes e volta entusiasmada com os ideais comunistas. Ao retornar ingressa no Partido Comunista e convence Oswald a filiar-se também. Começa então para ambos um período de intensa militância política, com um estilo de vida oposto ao que haviam se acostumado até então. As festas e reuniões em sociedade cedem lugar à militância e à incerteza. Em março de 1931 fundam o jornal tablóide O Homem do Povo que, segundo seu programa, embora não fosse filiado a nenhum partido apoiaria “a esquerda revolucionária em prol da realização das reformas necessárias”. Pagú escrevia artigos, fazia desenhos, charges e vinhetas, além de assinar a seção “A Mulher do Povo”, em que criticava as “feministas de elite” e as classes dominantes. O jornal durou apenas oito números, sendo impedido de circular pela polícia após a confusão gerada por ataques de Oswald à faculdade de Direito, que foi chamada por ele de “cancro” que minava o estado. O Homem do Povo acabou fechado por determinação do Secretário de Segurança do Estado.











PRISÃO POLÍTICA E PARQUE INDUSTRIAL

Pagú escreve o seu romance Parque Industrial que Oswald de Andrade edita. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a TÁBUA CRONOLÓGICA.





Pagú, que já havia participado das agitações de rua por ocasião da Revolução de 1930, participa de movimentos de operários da construção civil em Santos e em 23 de agosto de 1931 é presa como agitadora num comício de estivadores em greve na cidade. Oswald, na tentativa de ajudá-la, faz-se passar por seu advogado e também é preso. Ao ser libertada, o Partido Comunista, para se eximir de culpa, obriga-a assinar um documento em que se declarava uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”.







Em 1932 Pagú e Oswald já não vivem mais juntos. Ela vai para o Rio e instala-se numa Vila Operária, trabalhando como lanterninha num cinema da Cinelândia. Era parte do projeto do Partido fazer com que os intelectuais experimentassem o modo de vida e o trabalho dos operários. Apesar do entusiasmo mostrado pelos dois, a maioria dos companheiros do PC não acreditava nas intenções de Oswald e Pagú, conforme se observa nas memórias de um militante da época: “um desses elementos, podemos dizer perniciosos, era uma moça (poetisa) chamada Pagú, que vivia, às vezes, com Oswald de Andrade. Ambos haviam ingressado no Partido, mas para eles, principalmente para Oswald, tudo aquilo lhes parecia muito divertido. Ser membro do PC, militar ao lado dos operários ‘autênticos’, tramar a derrubada da burguesia e a instauração de uma ‘ditadura do proletariado’, era sumamente divertido e emocionante.” (depoimento de Leôncio Basbaum, 1978)







Em janeiro de 1933 Pagú lança seu primeiro romance, Parque Industrial – romance proletário, com edição financiada por Oswald. A autora esconde-se sob o pseudônimo de Mara Lobo por exigência do Partido Comunista. Esteticamente, Parque Industrial se insere nas experiências modernistas, notadamente com influências de Oswald de Andrade - que havia lançado seu Memórias sentimentais de João Miramar em 1924. É uma narrativa urbana, cujo foco central são os trabalhadores – ou melhor, as trabalhadoras – das indústrias da cidade de São Paulo, vivendo miseravelmente esmagadas pelas classes dominantes. Além de poder ser visto como um documento das ideologias de uma época, Parque Industrial é também um belo exemplo de uma experiência de linguagem.











MOSCOU, UM DESENCANTO

NO BRASIL, PRISÃO E TORTURA





Em dezembro do mesmo ano, Pagú sai em viagem pelo mundo na intenção de estudar e verificar in loco, na Rússia, como estava se executando na prática a ideologia pela qual lutava. Oswald ajuda no custeio da viagem e fica tomando conta de Rudá. Ela atua como correspondente dos jornais Diário da Noite (SP), Diário de Notícias e Correio da Manhã (RJ). Visita os Estados Unidos, Japão e China – onde entrevista Sigmund Freud. Da China parte para Moscou, em maio de 1934, numa viagem de oito dias pelo Transiberiano. A realidade que vê nas ruas da cidade a deixa profundamente decepcionada: “o ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome. Em Moscou, um hotel de luxo para os altos burocratas, os turistas do comunismo, para os estrangeiros ricos. Na rua as crianças mortas de fome: era o regime comunista” (Verdade e Liberdade, 1950).







Sai de Moscou em direção à França, onde se estabelece por um tempo, freqüentando cursos da Université Populaire. Filia-se ao Partido Comunista francês com a identidade falsa de Leonnie, e participa de manifestações ao lado da Front Populaire (união dos partidos de esquerda). É detida três vezes antes de ser presa como militante comunista estrangeira, em julho de 1935. Salva de ser submetida ao Conselho de Guerra ou deportada para Itália ou Alemanha pelo embaixador Souza Dantas, acaba sendo repatriada.







Volta ao Brasil no fim do ano, quando se separa definitivamente de Oswald. Passa a colaborar no jornal A Platéia mas, pouco depois de sua chegada, é presa em razão da Intentona Comunista. Condenada a dois anos de prisão, fica nos presídios Paraíso e Maria Zélia, em São Paulo, mas foge antes de completar a pena. Presa novamente, é condenada a mais dois anos e meio de prisão, que cumpre dessa vez na Casa de Detenção do Rio de Janeiro. Além das torturas, Pagú sofre perseguições dos próprios correligionários de partido. Há nos seus arquivos uma carta desse período, cheia de desesperança, enviada ao futuro marido Geraldo Ferraz: “(...) Escrevo o retrocesso constatado no dia de hoje. Não consigo viver a vida artificial dos últimos dias em que me dissolvia na vida coletiva da prisão. Onde é que eu ia buscar o entusiasmo senil pelo lúmpen quando a própria lama hoje me decepciona? (...)”







Cumprida a pena, Pagú fica ainda na prisão por mais seis meses, por se recusar a prestar homenagem a Adhemar de Barros, então interventor federal em visita ao presídio. É libertada em julho de 1940, muito doente, pesando 44 quilos. A temporada de quase cinco anos de cárcere deixou marcas profundas na antiga musa antropofágica. Segundo a irmã Sidéria, ela tentou o suicídio logo após sair da prisão.











FORA DA CADEIA, INTENSA ATUAÇÃO JORNALÍSTICA





A saída da prisão marca uma nova fase na vida de Pagú. Ela passa a viver com Geraldo Ferraz, que seria seu companheiro até sua morte. Rompe com o Partido Comunista. Tem o segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 1941, e passa a colaborar em diversas publicações como redatora, cronista ou crítica.



Durante toda a década de 1940, Pagú trabalha ativamente na imprensa, muitas vezes exercitando combativamente a crítica literária. Ela reclama da capitulação dos autores que, na vigência do Estado Novo, justificavam sua inércia pela falta de liberdade no país. Conforme nota o poeta Augusto de Campos, nas críticas que escrevia sente-se, apesar do desencanto e decepções, uma disposição de luta pela manutenção do espírito renovador de 22. Entre outros veículos, ela trabalha, nesse período, nos jornais cariocas A Manhã, O Jornal, e nos paulistas A Noite e Diário de São Paulo.







Entre junho e dezembro de 1944, ela colabora como contista na revista Detetive, dirigida por Nelson Rodrigues. Na publicação, de grande popularidade à época, Pagú escrevia contos de suspense sob o pseudônimo de King Shelter. No ano seguinte, lança seu segundo romance, A Famosa Revista, em colaboração com Geraldo Ferraz. Se Parque Industrial fora escrito por uma Pagú militante, crente na iminência da revolução, A Famosa Revista caracteriza-se pela crítica e denúncia dos males do Partido Comunista. Nesse sentido, pode-se dizer que o segundo livro é o oposto do primeiro.



A década de 50 se inicia com uma nova incursão de Pagú na política. Ela concorre a uma vaga na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro, mas não é eleita. Como parte da campanha, publica o panfleto Verdade e Liberdade, editado pelo comitê Pró-Candidatura Patrícia Galvão, em que comenta sua passagem pela prisão, a desilusão com o Partido Comunista e o porquê de sua candidatura:







(...) De degrau em degrau desci a escada das degradações, porque o Partido precisava de quem não tivesse um escrúpulo, de quem não tivesse personalidade, de quem não discutisse. De quem apenas ACEITASSE. Reduziram-me ao trapo que partiu um dia para longe, para o Pacífico, para o Japão e para a China, pois o Partido se cansara de fazer de mim gato e sapato. Não podia mais me empregar em nada: estava ‘pintada’ demais. (...) Em 1935, procurei uma revolução que o Partido preparava e não achei revolução nenhuma. Nos pontos, nas esquinas, nenhuma voz, nenhum gesto. Apenas o fiasco. Mais uma vez, o fiasco (...) E todos nós para a cadeia (...) Outros se mataram. Outros foram mortos. Também passei por essa prova. Também tentaram me esganar em muito boas condições. Agora, saio de um túnel. Tenho várias cicatrizes, mas ESTOU VIVA.”











APAIXONADA PELO TEATRO, QUER SER PATRÍCIA DE NOVO





A década de 1950 marca também uma aproximação cada vez maior com o teatro. A partir de 1952 ela passa a freqüentar a Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD), sob direção de Alfredo Mesquita, que lembra que, nessa época, ela já não era mais a chocante e extravagante Pagú, mas uma arredia e calada Patrícia: “conversávamos longamente, amigavelmente, enquanto havia pouca gente à volta. Mal aumentava a roda e Patrícia – como queria que a chamássemos – calava-se arredia, assustadiça, para logo se esgueirar e sumir. Assim era a famosa, a terrível, a assustadora Pagú”.







Pagú passa a ter aulas com Alfredo Mesquita (“aluna ainda, mas não mais subversiva, agressiva, escandalosa como nos tempos da ‘Praça’. Entusiasta, aplicada, séria, divertida...”), Décio de Almeida Prado, Ziembinsky e outros mestres. Leva para Santos a apresentação de “A Descoberta do Novo Mundo”, de Lope de Vega, realizada pela EAD, iniciando uma série de espetáculos da Escola na cidade. A partir desta época Patrícia exerce importante papel na vida cultural de Santos, liderando a campanha para a construção do Teatro Municipal e formando grupos amadores de teatro, além de fundar a Associação dos Jornalistas Profissionais de Santos. Também criou e presidiu a União do Teatro Amador de Santos, por onde passaram, ainda iniciantes, atores como Aracy Balabanian, José Celso Martinez Correa, Sérgio Mamberti e Plínio Marcos.







Na imprensa dedicou-se às páginas culturais, publicando artigos e páginas especiais sobre escritores, poetas e dramaturgos como Ionesco, Brecht, Fernando Pessoa, Dostoiévsky, Rilke e Pirandello. Também foi responsável por traduções pioneiras de escritores então pouco conhecidos no Brasil: Blaise Cendras, Svevo e Arrabal. Deste último encenou, em estréia mundial, a peça ‘Fando e Lis”, com o Grupo Experimental de Teatro Infantil (GETI).







Esclarecendo sua preferência pelo teatro experimental afirmou: “Preferimos a vanguarda, porque visa ela corrigir os vícios e os hábitos de se assistir teatro normal, teatro repetido, teatro que deixa espectador e atores indiferentes. Preferimos aqueles momentos capazes de sacudir o sono do mundo, como lembrava, certa vez, o velho mestre Sigmund Freud. Pois que o mundo dorme.”







O compositor santista Gilberto Mendes, em suas memórias, afirma que “Pagú tinha um humor, uma perspicácia e finura intelectual especiais. E gostava das pessoas, de ajudar (...) Nesses mais ou menos dez últimos anos de sua vida em Santos, Pagú andava esquecida, quase ninguém falava dela no Brasil, era uma figura anônima pelas ruas da cidade, pelas platéias dos teatros, integrada na vidinha artística da província, animando a gente, escrevendo sobre nós, músicos, atores, diretores (...) Era uma mulher formidável”. Seu prolífico trabalho de crítica nos jornais - polemizando, comprando brigas, combatendo - e seu intenso trabalho com o teatro só são interrompidos com sua morte, provocada por um câncer.







Desejava que seus livros sobre teatro fossem doados para a EAD após sua morte. Alfredo Mesquita recorda-se do pedido da amiga: “lembro-me ainda do dia em que, sabendo-se gravemente doente, disse-me pretender entregar imediatamente a sua biblioteca à Escola. Assustado, não querendo por nada acreditar no que dizia a respeito da saúde, recusei a oferta.” Mas a doença evoluiu e Mesquita foi obrigado a acatar o pedido: “vi-a ainda duas vezes, em casa de parentes, sentada na cama, o tronco ereto, fumando, fumando sempre, os olhos muito pretos, ainda vivos, fixos em mim com aquela expressão de angústia e interrogação dos que vão morrer. Já não podia levantar-se e mal conseguia falar. Das duas vezes, repetiu baixinho: - não se esqueça dos livros, são seus...”.







Em setembro de 1962 viaja a Paris para ser operada. Na véspera, um último texto seu é publicado em A Tribuna - o poema “Nothing”:







“Nada, nada, nada



Nada mais do que nada



(...) Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas



Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava



Um cão rosnava na minha estrada



(...) Abri meu abraço aos amigos de sempre



Poetas compareceram



Alguns escritores



Gente de teatro

Birutas no aeroporto



E nada”







A operação fracassa e ela tenta o suicídio. Volta ao Brasil e em 12 de dezembro de 1962 morre em Santos.







“Deu-se esta semana uma baixa nas fileiras de um agrupamento de raros combatentes. Ausência desde 12 de dezembro de 1962, que pede seu registro do companheiro humilde, que assina estas linhas. Patrícia Galvão morreu neste dia de primavera, nessa quarta-feira, às 16 horas (...) Morreu aqui em Santos, a cidade que mais amava, na casa dos seus, entre a Irmã e a Mãe que a acompanhavam, naquele momento e, felizmente, em poucos minutos, apenas sufocada pelo colapso que a impedia de respirar, pela última palavra que pedia ainda liberdade, ‘desabotoa-me esta gola’”. (Geraldo Ferraz, A Tribuna, 16/12/1962)





quarta-feira, 2 de junho de 2010

 http://planetasustentavel.abril.com.br/manual/

sustentabilidade.

 Ecologia deixou de ser um assunto restrito a


entusiastas e cientistas. O tema muitas vezes

visto como árduo, no passado, agora ocupa as

manchetes de jornais e, até, as colunas sociais.

O que era chato ficou chique. Empresas,

mídia, governos, bancos, astros de Hollywood

e do Brasil passaram a discutir – com urgência –

como fazer para salvar o homem do aquecimento

global e melhorar a qualidade de vida na Terra.

A noção de sustentabilidade – desenvolvimento que

não compromete o futuro – começa a ganhar as ruas.

O movimento Planeta Sustentável

faz parte dessa corrente que pretende amenizar

nosso impacto sobre o ambiente e tornar

a convivência social cada vez mais civilizada.

Este manual quer provar como é possível

promover pequenos gestos que conduzirão

a grandes mudanças se forem adotados por

todos nós. Um bom começo é praticar os

“três erres”: reduzir, reutilizar e reciclar.

As dicas e informações que você vai ler aqui

podem ser aplicadas no dia-a-dia agora mesmo,

em sua própria casa, no trabalho, circulando

pelas ruas e em sua vida pessoal.

A luta pela sustentabilidade será vencida em

diversas frentes – que vão da tecnologia à política.

Mas em todas elas será preciso promover a mudança

de hábitos pessoais. Este manual ensina como começar a modificar os seus. É preciso fazer algo. E devemos fazer já.

interessante!!

Grife de sabonete dá a fórmula para proteger palmeirasCosméticos preservam biodiversidade




Mo Constantine conseguiu um exraordinário sucesso com seus sabonetes da marca Lush, presentes em todo shopping que se preze. Seus ingredientes exalam odores agradáveis a um quilômetro de distância. Ela e seu marido Mark vem trabalhando para "desintoxicar" a hora do banho desde os anos 1970, quando vendiam produtos para uma nascente Body Shop. Sempre foram contra testes com animais e promoveram ingredientes orgânicos, tudo a partir de sua sede em Dorset, interior da Inglaterra.



Mas o óleo de palmeira mostrou-se um obstáculo sério. A indústria de cosméticos usa quase 7% de todo o fornecimento de óleo de palmeira e está profundamente implicada na destruição da biodiversidade da floresta tropical em todo o Sudeste da Ásia. Para Mo Constantine, a solução era óbvia: criar uma alternativa: "Levou um ano para conseguirmos, porque era bem complicado", ela explica. A nova base que ela inventou combina óleo de girassol, óleo de semente de colza e óleo de coco com hidróxido de sóldio e água, fervidos juntos para acelerar o processo de saponificação. Ela acrescenta sal para separar o sabonete da mistura.



A mistura hoje é a base para toda a linha de sabonees, permitindo que a Lush reduza seu consumo anual de óleo de palmeira em 250 toneladas. Mo apela a outras empresas para seguir seu exemplo: "Nós vamos manter conosco a fórmula da base." Seu sonho é que toda a indústria lave suas mãos. Sem óleo de palmeira, conta o Guardian. ver este postcomente

Divina India!!!

Divina Índia




Aqui, religiosidade, beleza e fantasia se misturam como em poucos pontos do planeta e atraem os olhares do mundo.



Direção de arte • Camilla Sola

Edição • Raphaela Campos de Mello

Texto • Maria Carolina Balro

Parece que o mundo todo resolveu olhar para o mesmo ponto do planeta: a Índia. Ela está no cinema, na televisão, na moda, nas páginas de revista, na decoração, enfim, em praticamente todo lugar. Uma das coisas que mais chamam a atenção nesse belo mosaico de cores, sabores, cheiros e texturas é a integração absoluta do seu povo com o sagrado. “Essa cultura traz o divino para o cotidiano. Deus não é outra coisa senão nós mesmos e tudo o que se manifesta na vida”, diz Carlos Barbosa, de São Paulo, estudioso do sânscrito, língua milenar presente nos livros sagrados. Por outro lado, ele enfatiza a pluralidade existente no seio da religião hindu. “Nós, ocidentais, pensamos que o hinduísmo é um conjunto harmonioso de conhecimentos e tentamos integrar todas as suas vertentes numa só. Mas na Índia existem várias correntes que se sobrepõem e, muitas vezes, conflitam entre si. Não existe uma coisa só”, completa. Ou seja, para os antigos povos da Índia, assim como para os indianos atuais, os deuses fazem parte do dia a dia e podem até, acredite, ser convidados a sentar junto à mesa. Dessa forma, o sagrado não fica lá em cima, no céu, ou em um lugar que se pode atingir somente depois da morte.



Esse princípio faz parte da religião védica, conhecida como hinduísmo. Para a maioria dos indianos, tudo o que existe nos 18 milhões de Universos (uma maneira de dizer que eles são incalculáveis) é uma única e interdependente manifestação de Deus. Montanhas e rios, flores e animais, seres celestiais e humanos não passam de formas variadas em que Ele se manifesta – neste mundo e em inumeráveis outros, visíveis e invisíveis a nossos olhos. “É maia, a ilusão, que faz acreditar que as coisas são separadas e têm uma existência independente”, explica Barbosa.



Esse delicado contato com o divino é apenas um pequeno pedaço desse imenso país de contrastes que encanta pela riqueza de elementos que formam uma das culturas mais ricas do mundo. Conheça nas próximas páginas os mais significativos.
log da lady dell

revoluçao do bem

 atitude Carol Carneiro




reflexão

Revolução do bem

Algo novo surge nas metrópoles em resposta aos problemas que conhecemos tão de perto. Basta percebermos as manifestações urbanas que roubam nossa atenção e nos fazem refletir

Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann

Revista Bons Fluidos – 01/06/2010



Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:



[img1]A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.



"Pagar um café para alguém é uma demonstração simbólica de afeto", define Beth. Nas entrelinhas da iniciativa, desponta o exercício de se colocar no lugar do outro. Um dia você paga, no seguinte, se estiver sem trocado ou tiver esquecido a carteira em casa, recebe o mimo. "O próximo poderá ser você mesmo, ninguém sabe", alerta o lembrete fixado na parede do estabelecimento. Por meio dessa gentileza às escuras, os adeptos também se aproximam de seus pares, mesmo que não conheçam seu rosto. "Podemos ajudar alguém sem mesmo precisar saber quem ele é", enfatiza Beth. "Todos nós precisamos uns dos outros", arremata Marcos.



Quem chega se surpreende com a proposta. Já os frequentadores - profissionais e clientes que circulam regularmente pelo edifício - estão familiarizados com a lousa, onde ficam anotados os cafés ofertados gratuitamente. "Certa vez, um senhor, comovido com a ideia, deixou dez bebidas pagas", lembra Beth, com entusiasmo. "Tomara que mil estabelecimentos adotem essa fórmula em São Paulo, de forma que um próximo sempre possa se abastecer com um cafezinho", deseja Marcos. Até agora, bom sinal. De tão gasta, a lousa do local já foi trocada mais de uma vez.



[img2]CULTURA EM BOAS MÃOS

"Livros não são objetos de decoração. Eles devem percorrer seu caminho", declara Felipe Meyer, idealizador do projeto Livro Livre, junto com Pedro Markun. Por isso, não se espante se um dia desses encontrar num banco de praça ou ponto de ônibus um livro que pareça ter sido esquecido por alguém. Na verdade, ele foi deixado ali propositadamente para que você o encontre e o leve para casa, desde que se comprometa a passá-lo adiante após a leitura. Para participar da iniciativa, basta seguir três passos. O primeiro é ler uma boa trama. Encerrado o deleite, é preciso colar dentro do exemplar a etiqueta encontrada no site do projeto. Esse registro contém um código para que a obra possa ser rastreada e para que os leitores possam deixar suas impressões. Por fim, a tarefa é "libertar" a edição, "esquecendo-a", como quem não quer nada, em um local público e bem movimentado, onde possa ser rapidamente encontrada por um novo leitor.



O conceito é inspirado no projeto Bookcrossing, criado em 2001, nos Estados Unidos, e que já conta com mais de 600 mil participantes em cerca de 130 países. No Brasil, onde o hábito da leitura é freado por entraves econômicos e sociais, a iniciativa vem formar novos leitores, além de ampliar a vida útil dos exemplares. Uma corrente literária, mas, acima de tudo, solidária. Afinal, os amantes das letras conhecem o bem que um livro pode fazer por um indivíduo. "Defendemos a ideia de que a internet é uma rede de pessoas com o poder de mobilizar comunidades, causando transformações globais. Em nosso caso, está em jogo a democratização da leitura", enfatiza Felipe.



Desde o início do projeto, em 2008, o Livro Livre já contabilizou a libertação de 4 900 publicações e deve ter atingido em torno de 12 mil pessoas, pois se considera que cada título passe por pelo menos três mãos. "Para nós, é gratificante a surpresa que os contemplados sentem ao ganhar um livro, lembrando que está fazendo parte de uma corrente e que sua única obrigação é passá-lo adiante", comenta o idealizador.



Outra investida paralela é a das Blitz Literárias, ações em que uma equipe de voluntários distribui exemplares à comunidade. Num evento desses, Felipe presenciou uma cena inesquecível. "Entreguei um livro para um rapaz dentro de uma favela em São Paulo. Depois de um tempo, vi que ele estava lendo a história para o filho de poucos meses, que obviamente não estava entendendo nada. A felicidade daquele pai me emocionou."



CONTAMINAÇÃO SILENCIOSA

Se você tivesse de escolher um lugar para meditar, certamente a avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, seria o último endereço a ser cogitado. Não no caso dos Influenzadores. O coletivo criado em 2009 e comandado pelos paulistas Alexandre Paulain, Sarah Elisa Viana e Júlia Jalbut, artistas ligados às artes cênicas e visuais e à música, fez o caminho inverso: optou justamente pelo canteiro central da movimentada via, em plena hora do rush, para realizar uma meditação em massa. Batizada de Iluminação Urbana, a intervenção contou com 100 participantes vestidos com trajes sociais - tal qual o público que trabalha nos arredores. "Entendemos a performance como um ato de guerrilha, mas sem armas. O que nos interessa é sequestrar por instantes o olhar do transeunte e fazer desmoronar o previsível fluxo urbano", justifica Alexandre. Uma vez atraídas pela inusitada cena, as pessoas são incitadas a parar por alguns minutos, segundos até, e lidar com algo diferente do habitual. "A presença humana é imprescindí

vel para provocar a estranheza que nos liberta da rotina já tão desbotada", defende.



A grande sacada do grupo foi chamar a atenção das pessoas, oprimidas pelo barulho do entorno, valendo-se do silêncio. "Ao invés de gritarmos, ficamos quietos, ao invés de lutarmos por uma revolução externa, buscamos uma revolução interna, a tranquilidade em meio ao caos", relata. "Mostramos que qualquer um poder fazer aquilo", acrescenta.



As reações, contudo, foram as mais diversas. Surpresa, incômodo, apoio. "Alguns pensaram que estávamos ali pela paz, outros, contra o estresse. Teve até quem nos considerou um bando de desocupados. O fato é que a imagem de pessoas comuns meditando não no Tibete, mas em plena Paulista, chocou muita gente", avalia o artista. Apesar do estranhamento, houve até quem se empolgasse a ponto de se juntar à trupe, cruzando as pernas em posição de lótus e se entregando à meditação. Já aqueles que participaram da investida puderam vivenciar, no mínimo, minutos desafiadores. "Imagine que a Paulista represente o turbilhão de pensamentos. Estávamos literalmente no meio desse turbilhão", descreve.



O auge da intervenção sensibilizou todos, participantes e pedestres. "Havia um grupo de crianças de rua que ameaçavam nos roubar, nos insultavam. Mas, depois de alguns minutos sem receber nenhuma reação, passaram a meditar conosco", recorda Alexandre, satisfeito. Não é à toa que o nome do coletivo parodia o do vírus Influenza A (H1N1). No sentido inverso ao da contaminação virótica, querem se infiltrar positivamente no cotidiano das pessoas, "contagiando o mundo com ideias de liberdade, alegria e amor".



OUSADIA PELO MUNDO

Vale tudo quando a motivação é semear o debate. Em Nova York, o artista plástico Adrian Kondratowicz criou uma proposta ecológica e artística. Em seu site, ele disponibiliza sacos de lixo coloridos e biodegradáveis. O objetivo é que essas embalagens evidenciem o volume de detritos produzidos nas grandes cidades. Outro movimento norte-americano vem conquistando terreno ao redor do mundo. Chamada de Yarn Bombing, espécie de grafite de lã, a iniciativa se ocupa da tarefa de revestir propriedades públicas com tricô. Na Bélgica, quem roubou a atenção foi a designer Liesbeth Bussche. Ela produziu esculturas gigantes de joias e as espalhou pelas ruas de Tielrode. Uma maneira contundente de valorizar o espaço que diariamente compartilhamos com nossos concidadãos e nos lembrar da importância de fazermos o mesmo.





reflexão

Revolução do bem

Algo novo surge nas metrópoles em resposta aos problemas que conhecemos tão de perto. Basta percebermos as manifestações urbanas que roubam nossa atenção e nos fazem refletir

- A A +Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann

Revista Bons Fluidos – 01/06/2010

Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:



[img1]A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.



"Pagar um café para alguém é uma demonstração simbólica de afeto", define Beth. Nas entrelinhas da iniciativa, desponta o exercício de se colocar no lugar do outro. Um dia você paga, no seguinte, se estiver sem trocado ou tiver esquecido a carteira em casa, recebe o mimo. "O próximo poderá ser você mesmo, ninguém sabe", alerta o lembrete fixado na parede do estabelecimento. Por meio dessa gentileza às escuras, os adeptos também se aproximam de seus pares, mesmo que não conheçam seu rosto. "Podemos ajudar alguém sem mesmo precisar saber quem ele é", enfatiza Beth. "Todos nós precisamos uns dos outros", arremata Marcos.



Quem chega se surpreende com a proposta. Já os frequentadores - profissionais e clientes que circulam regularmente pelo edifício - estão familiarizados com a lousa, onde ficam anotados os cafés ofertados gratuitamente. "Certa vez, um senhor, comovido com a ideia, deixou dez bebidas pagas", lembra Beth, com entusiasmo. "Tomara que mil estabelecimentos adotem essa fórmula em São Paulo, de forma que um próximo sempre possa se abastecer com um cafezinho", deseja Marcos. Até agora, bom sinal. De tão gasta, a lousa do local já foi trocada mais de uma vez.



[img2]CULTURA EM BOAS MÃOS

"Livros não são objetos de decoração. Eles devem percorrer seu caminho", declara Felipe Meyer, idealizador do projeto Livro Livre, junto com Pedro Markun. Por isso, não se espante se um dia desses encontrar num banco de praça ou ponto de ônibus um livro que pareça ter sido esquecido por alguém. Na verdade, ele foi deixado ali propositadamente para que você o encontre e o leve para casa, desde que se comprometa a passá-lo adiante após a leitura. Para participar da iniciativa, basta seguir três passos. O primeiro é ler uma boa trama. Encerrado o deleite, é preciso colar dentro do exemplar a etiqueta encontrada no site do projeto. Esse registro contém um código para que a obra possa ser rastreada e para que os leitores possam deixar suas impressões. Por fim, a tarefa é "libertar" a edição, "esquecendo-a", como quem não quer nada, em um local público e bem movimentado, onde possa ser rapidamente encontrada por um novo leitor.



O conceito é inspirado no projeto Bookcrossing, criado em 2001, nos Estados Unidos, e que já conta com mais de 600 mil participantes em cerca de 130 países. No Brasil, onde o hábito da leitura é freado por entraves econômicos e sociais, a iniciativa vem formar novos leitores, além de ampliar a vida útil dos exemplares. Uma corrente literária, mas, acima de tudo, solidária. Afinal, os amantes das letras conhecem o bem que um livro pode fazer por um indivíduo. "Defendemos a ideia de que a internet é uma rede de pessoas com o poder de mobilizar comunidades, causando transformações globais. Em nosso caso, está em jogo a democratização da leitura", enfatiza Felipe.



Desde o início do projeto, em 2008, o Livro Livre já contabilizou a libertação de 4 900 publicações e deve ter atingido em torno de 12 mil pessoas, pois se considera que cada título passe por pelo menos três mãos. "Para nós, é gratificante a surpresa que os contemplados sentem ao ganhar um livro, lembrando que está fazendo parte de uma corrente e que sua única obrigação é passá-lo adiante", comenta o idealizador.



Outra investida paralela é a das Blitz Literárias, ações em que uma equipe de voluntários distribui exemplares à comunidade. Num evento desses, Felipe presenciou uma cena inesquecível. "Entreguei um livro para um rapaz dentro de uma favela em São Paulo. Depois de um tempo, vi que ele estava lendo a história para o filho de poucos meses, que obviamente não estava entendendo nada. A felicidade daquele pai me emocionou."



CONTAMINAÇÃO SILENCIOSA

Se você tivesse de escolher um lugar para meditar, certamente a avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, seria o último endereço a ser cogitado. Não no caso dos Influenzadores. O coletivo criado em 2009 e comandado pelos paulistas Alexandre Paulain, Sarah Elisa Viana e Júlia Jalbut, artistas ligados às artes cênicas e visuais e à música, fez o caminho inverso: optou justamente pelo canteiro central da movimentada via, em plena hora do rush, para realizar uma meditação em massa. Batizada de Iluminação Urbana, a intervenção contou com 100 participantes vestidos com trajes sociais - tal qual o público que trabalha nos arredores. "Entendemos a performance como um ato de guerrilha, mas sem armas. O que nos interessa é sequestrar por instantes o olhar do transeunte e fazer desmoronar o previsível fluxo urbano", justifica Alexandre. Uma vez atraídas pela inusitada cena, as pessoas são incitadas a parar por alguns minutos, segundos até, e lidar com algo diferente do habitual. "A presença humana é imprescindí

vel para provocar a estranheza que nos liberta da rotina já tão desbotada", defende.



A grande sacada do grupo foi chamar a atenção das pessoas, oprimidas pelo barulho do entorno, valendo-se do silêncio. "Ao invés de gritarmos, ficamos quietos, ao invés de lutarmos por uma revolução externa, buscamos uma revolução interna, a tranquilidade em meio ao caos", relata. "Mostramos que qualquer um poder fazer aquilo", acrescenta.



As reações, contudo, foram as mais diversas. Surpresa, incômodo, apoio. "Alguns pensaram que estávamos ali pela paz, outros, contra o estresse. Teve até quem nos considerou um bando de desocupados. O fato é que a imagem de pessoas comuns meditando não no Tibete, mas em plena Paulista, chocou muita gente", avalia o artista. Apesar do estranhamento, houve até quem se empolgasse a ponto de se juntar à trupe, cruzando as pernas em posição de lótus e se entregando à meditação. Já aqueles que participaram da investida puderam vivenciar, no mínimo, minutos desafiadores. "Imagine que a Paulista represente o turbilhão de pensamentos. Estávamos literalmente no meio desse turbilhão", descreve.



O auge da intervenção sensibilizou todos, participantes e pedestres. "Havia um grupo de crianças de rua que ameaçavam nos roubar, nos insultavam. Mas, depois de alguns minutos sem receber nenhuma reação, passaram a meditar conosco", recorda Alexandre, satisfeito. Não é à toa que o nome do coletivo parodia o do vírus Influenza A (H1N1). No sentido inverso ao da contaminação virótica, querem se infiltrar positivamente no cotidiano das pessoas, "contagiando o mundo com ideias de liberdade, alegria e amor".



OUSADIA PELO MUNDO

Vale tudo quando a motivação é semear o debate. Em Nova York, o artista plástico Adrian Kondratowicz criou uma proposta ecológica e artística. Em seu site, ele disponibiliza sacos de lixo coloridos e biodegradáveis. O objetivo é que essas embalagens evidenciem o volume de detritos produzidos nas grandes cidades. Outro movimento norte-americano vem conquistando terreno ao redor do mundo. Chamada de Yarn Bombing, espécie de grafite de lã, a iniciativa se ocupa da tarefa de revestir propriedades públicas com tricô. Na Bélgica, quem roubou a atenção foi a designer Liesbeth Bussche. Ela produziu esculturas gigantes de joias e as espalhou pelas ruas de Tielrode. Uma maneira contundente de valorizar o espaço que diariamente compartilhamos com nossos concidadãos e nos lembrar da importância de fazermos o mesmo.



Viver nas grandes cidades é uma prova de resistência física e emocional. Uma maratona que encaramos diariamente, sentindo no corpo e na alma as marcas do combate: estresse, cansaço, irritação, insensibilidade, intolerância e por aí vai. Porém, como toda ação desencadeia uma reação, alguns inconformados estão, felizmente, tentando neutralizar a hostilidade que corre solta pelas ruas das metrópoles. No mundo todo, pipocam intervenções inspiradas nas artes plásticas e cênicas imbuídas do mesmo espírito: deixar a urbe e as pessoas que nela vivem mais amigáveis, saudáveis e conscientes.



"A cidade não é um espaço estabelecido por vontades políticas impostas de cima para baixo, e sim um espaço em permanente construção, passível de participação e carente de inclusão", afirma Gustavo Godoy, integrante do coletivo Bijari, centro de criação de artes visuais, multimídia e arquitetura, de São Paulo. O grupo, composto por seis membros, não consegue ficar indiferente aos problemas que oprimem a capital paulista, como a desigualdade social, a poluição e o individualismo. Desse incômodo, nascem as propostas da trupe. "Tentamos criar uma reflexão poética, seja em escritos, desenhos, pinturas, vídeos, design ou até mesmo em uma boa conversa com os que passam por perto", esclarece Gustavo. Trocando em miúdos, esses artistas querem despertar o olhar e a mente, automatizados pela rotina, estimulando a população a repensar a realidade, com seus dilemas e possibilidades.



Objetivos semelhantes impulsionam os flash mobs, manifestações previamente combinadas pela internet que chegam a reunir centenas de pessoas em um local público. "As primeiras iniciativas surgiram com a popularização da rede mundial de computadores, tendo como referência os happenings [performances improvisadas], mas com um número maior de participantes", explica Caio Trigoli Komatsu, criador do portal Mobrasilnews.com, que reúne grupos do gênero. "Queremos transmitir a seguinte mensagem: não seja mais um dentro da multidão. Viva!", destaca ele.



Além de levantar bandeiras sociais, comportamentais e ambientais, os flash mobs promovem o encontro de desconhecidos, celebram a união de forças em nome de uma causa comum. Um esforço nobre e necessário em tempos de isolamento e fuga do espaço público, ameaçado pela violência. "O movimento ainda é desconhecido para a grande maioria das pessoas. No entanto, tem conquistado adeptos por mostrar que podemos fazer algo maior e provar que as redes sociais não isolam as pessoas", avalia Caio.



Conheça, a seguir, três ações interessadas em fazer das cidades um lugar mais acolhedor e fraterno:









A GENTILEZA DÁ AS CARAS

Para nós, brasileiros, o cafezinho simboliza muitas coisas. Confraternização, pausa, conforto emocional, boa conversa. Em São Paulo, Beth Guido, dona de um café situado num prédio comercial, na Vila Madalena, resolveu adicionar a essa lista um novo significado: cortesia anônima. Assim surgiu, há três anos, o café do próximo, uma simpática corrente onde quem consome um cafezinho pode deixar outro pago para o cliente seguinte.



Na verdade, Beth acatou a inspirada sugestão do administrador do condomínio, o psicólogo Marcos Fleury, que, por sua vez, conheceu esse sistema na livraria Argumento, no bairro carioca do Leblon. "Os gestos de dar e receber pertencem ao inconsciente coletivo", defende Marcos. Segundo ele, a iniciativa remonta a uma tradição milenar praticada pelos beduínos do deserto. "Peregrinos de toda a parte encontravam em suas paradas mantimentos deixados pelos prévios viajantes. Uma demonstração de respeito e solidariedade para que pudessem continuar sua jornada", descreve ele. O desfecho da história explica por que ela perdura até hoje, em versões contemporâneas. "Aqueles amparados pelo gesto também se reconheceram como próximos e, por isso, seguiram adiante repetindo o mesmo cuidado", acrescenta.

Dulux Walls - Director's Cut



Blog da lady dell

terça-feira, 1 de junho de 2010

achei interessante/texto sobre Pagu


 A alma que não se vende


*Lúcia Maria Teixeira Furlani









Desde 12 de dezembro de 1962, muitos anos já se passaram de sua partida. Não por acaso, foi em Santos, terra onde adorava viver e teve destacada atuação cultural na década de 50, que ela morreu. Patrícia Galvão, ou simplesmente Pagu, viveu literalmente cercada pelas palavras. Em sua trajetória de vida e obra (1910-1962), das palavras valeu-se como jornalista, crítica de letras, artes, televisão e teatro, poeta-desenhista, romancista, política militante, dissidente política, incentivadora cultural, mulher precursora e revolucionária.



Foram as palavras que estiveram presentes em suas colunas de jornal de 1929 a 1962, para divulgar os grandes renovadores da linguagem. Foi através dela que autores desconhecidos no Brasil e alguns até no restante do mundo ganharam vida e espaço.



Em Santos, incentivou o teatro amador, fez campanha para a construção do Teatro Municipal (instalado hoje no Centro de Cultura que leva seu nome), traduziu e dirigiu teatro de vanguarda, fundou a Associação dos Jornalistas Profissionais e a União do Teatro Amador, que revelou tantos artistas depois consagrados em teatro e televisão.



Participou ativamente de movimentos políticos e culturais importantes que afetaram nosso País e o restante do mundo, a partir do Modernismo e da utopia que o caracterizou.



Na década de 30, Pagu e seu companheiro Oswald de Andrade deram tratamento literário à luta política e ideológica na qual se engajaram. É Pagu, mulher livre e libertária, quem fez Oswald participar de caminhos revolucionários, que teriam expressão no Jornal Homem do Povo, dirigido por ambos e no romance Parque Industrial, escrito por ela.



Artigo originalmente publicado no Jornal A Tribuna, por ocasião do 40º aniversário de falecimento de Pagu



Pagu, que se engajou na militância política, no Partido Comunista, que deu a volta ao mundo, sozinha, como correspondente de diversos jornais. De passagem pela China, obtém as primeiras sementes de soja que foram introduzidas no Brasil. Foi presa vinte e três vezes, por motivos políticos, sendo a primeira mulher presa no Brasil na luta revolucionária: em 1931, em Santos, na greve dos estivadores; em Paris, como militante comunista estrangeira e ao voltar ao Brasil, de 1935 e 1940, sofrendo torturas, além de perseguições dos companheiros do partido. Ao sair da prisão, rompeu com o PCB e casou-se com Geraldo Ferraz. Ao lado dele, participou da revista Vanguarda Socialista, escreveram a quatro mãos o romance A Famosa Revista, integrou a equipe de diversos jornais. Nesta fase, aderiu a dissidência trotskista. Concorreu à Assembléia de São Paulo pelo PSB, mas não se elegeu. Lançou o manifesto Verdade e Liberdade, no qual ataca duramente o Partido Comunista. Passa, depois, a defender um socialismo libertário, pacífico, democrático e espiritualista, quando vemos aparecer em seu texto palavras derivadas da fraternidade cristã.



Antecipou-se ainda mais uma vez e fugiu do maniqueísmo político da época. Denunciou tanto o autoritarismo da direita como o da esquerda.



Em seus 52 anos de vida e buscas, não lhe faltou visão, ou seja, a arte de ver coisas invisíveis.



Para homenagear alguém avesso a homenagens, formalismos e academicismos, podemos dizer hoje a ela que se pode enterrar a liberdade, mas não se pode matá-la. Você, Patrícia, lutou pela liberdade, foi presa e sofreu por ela. Mas vida e morte são temporárias. A liberdade é eterna.



Devido ao seu jeito de agir, vestir e viver, muitos a chamaram de estranha. Mas, quando somos um pouco estranhos, podemos fazer coisas impensáveis e até inadmissíveis por aqueles presos às convenções. Pois viver é a coisa mais rara do mundo. Como disse Oscar Wilde, a maioria das pessoas apenas existe.



Você ultrapassou o métron , para os antigos gregos, a justa medida de cada um. O métron é medida subjetiva que vem dos primórdios do pensamento ocidental. Ultrapassá-lo significa arriscar além da conta.



Foram tantos os riscos, muitos os tropeços. Você pode ter perdido muitas coisas. Mas, às vezes, quando se perde, na verdade, estamos ganhando.



Por tudo isso, Pagu, não podemos dizer que, desde 1962, estamos sem sua presença, pois nos ficou sua alma. Como diria Rubem Braga, no fundo, talvez não seja bom negócio vender a alma. A alma sempre nos faz falta.



A sua torna-se imprescindível hoje, quando a tecnologia cria pontes tão compridas que não se sabe onde vão dar. O saber de muitos diminui, torna-se específico. Não temos ainda instrumentos que resolvam o conflito entre carência e desperdício. Muitos possuem muitas coisas que outros não têm, não terão e isso não os irmana, antes os separa.



Mas nem tudo está perdido. As perguntas essenciais continuam sendo feitas pelas crianças. Cresce o número de jovens e pessoas voluntárias, preocupadas em corrigir desigualdades e distribuir amor. O Brasil é hoje muito mais convicto dos valores democráticos do que há tempos atrás.



Ainda podemos curar qualquer mal na água salgada, seja ela suor, lágrimas ou um mergulho no mar. No mar da escandinava Dinesen, ou no mar santista, de Pagu e de todos nós.



Você talvez nos surpreenda mais uma vez, respondendo que hoje sua melhor homenagem seria a vaia. Vaia que, no dizer de Nelson Rodrigues, é a verdadeira apoteose, pois os admiradores corrompem.



Ou as vaias que salvaram a Semana de Arte Moderna, em 22, e deram-lhe o ar de juvenil travessura responsável por seu eterno encanto. Vaias, segundo a lenda, encomendadas por Oswald de Andrade que, com esse golpe de gênio, fez a Semana durar até nossos dias.



Mas você nos deu sua alma e nós, lhe entregamos hoje, ao invés da vaia apoteótica, o nosso coração.



Não se ganham corações de presente. Corações, só os recebemos, por merecimento.





(*) Lúcia Maria Teixeira Furlani é autora de diversos livros, entre os quais Pagu, doutora em Psicologia da Educação e Diretora Presidente do ISESC, que mantém o Colégio e a Universidade Santa Cecília (Santos-SP).

E-mail: lucia@unisanta.br

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